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100 anos de Rubem Braga

Abrimos este sábado com uma homenagem ao centenário de Rubem Braga. Nascido em 12 de janeiro de 1913,  em Cachoeiro de Itapemirim, o  escritor  é lembrado como um dos melhores cronistas brasileiros.  Uma de suas crônicas inesquecíveis: As boas coisas da vida
 
Uma revista mais ou menos frívola pediu a várias pessoas para dizer "dez coisas que fazem a vida valer a pena". Sem pensar demasiado, fiz esta pequena lista:

- Esbarrar às vezes com certas comidas da infância, por exemplo: aipim cozido, ainda quente, com melado de cana que vem numa garrafa cuja a rolha é um sabugo de milho. O sabugo dará um certo gosto ao melado? Dá: gosto de infância, de tarde na fazenda.

- Tomar um banho excelente num bom hotel, vestir uma roupa confortável e sair pela primeira vez pelas ruas de uma cidade estranha, achando que ali vão acontecer coisas surpreendentes e lindas. E acontecerem.

- Quando você vai andando por um lugar e há um bate-bola, sentir que a bola vem para seu lado e, de repente, dar um chute perfeito - e ser aplaudido pelos serventes de pedreiro.

- Ler pela primeira vez um poema realmente bom. Ou um pedaço de prosa, daqueles que dão inveja na gente e vontade de reler.

- Aquele momento que você sente que de um velho amor ficou uma grande amizade - ou que uma grande amizade está virando, de repente, amor.

- Sentir que você deixou de gostar de uma mulher que, afinal, para você, era apenas aflição de espírito e frustração da carne - a mulher não te deu e não te dá, essa amaldiçoada.

- Viajar, partir….

- Voltar.

- Quando se vive na Europa, voltar para Paris;
quando se vive no Brasil, voltar para o Rio.

- Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte - o assim chamado descando eterno.

Catei essa crônica na internet… e nada. Recorri ao livrinho velho na prateleira (edição de 88 - quem diria que as coisas da década de 80 já tão um pouco amareladas) digitei tudinho, queridos leitores, e posto para vosso deleite. Rubem Braga e suas crônicas foi o tema de minha monografia de graduação, quanta pompa!! Os sites da vida o citam como "maior cronista brasileiro depois de Machado de Assis". Heavy call… bem, fodam-se as patentes e as honrarias. O Braga dizia que "Crônica é viver em voz alta". Quando crescer (será que dá tempo?) quero escrever parecido com ele. Por enquanto celebro a ilusão e alegria da influência. Achei que tava na hora de fazer esse post para contrapor a eventuais chororôs e lamúrias. A vida nem é tão grave assim! E se não treinarmos a alegria de viver, a melancolia acaba nos fazendo de poodles.

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